Aquela expressão não me é estranha...
Fixo-me no seu rosto por breves segundos, para depois baixar o olhar.
Ah, claro! É aquela actriz... Fica tão diferente sem o artificialismo da maquilhagem.
Sentada numa carruagem do metro, tem sobre o colo um guião escrito a computador.
Aparentemente as deixas ainda não estão decoradas... sussurra as falas de uma mãe, que também é arguida [adivinha-se uma tragédia?]
O segredar das palavras confunde-se com um som metálico e ritmado, produzido por um homem que já não vê o mundo [ou será que nunca viu?]
Tac tac tic tic tac
A actriz contrai o rosto... não é uma reacção à passagem do pedinte, mas à sua prestação pouco virtuosa... as frases teimam em escorregar da memória.
Talvez nem tenha dado pela presença do músico do submundo, tal era o elevado grau de concentração.
Quase não se apercebeu da aproximação da estação em que tinha de sair... levantou-se à pressa nos últimos segundos, com o guião debaixo do braço.
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