sábado, 3 de dezembro de 2011

Aurora Digitalis*


Uma tela humana virgem, por explorar, rapidamente perde a pureza. É contaminada por jogos de luz. O corpo alado dá lugar a um ser informe. Das trevas emerge um corpo animalesco, em constante mutação.


Ora se assemelha a um aracnídeo, ora aparenta não ter identidade.

Está vivo. Quanto a isso não restam dúvidas. E nele habita o pulsar da vida. O forte bater do coração, sempre constante, denuncia a sua vontade de viver.

Transformar o corpo real num corpo imaginado, é esse o objectivo de Alva Morgenstern. A criadora e intérprete de Aurora Digitalis apresenta alguma resistência em traduzir o seu trabalho por palavras. Há coisas que simplesmente não se explicam. Mas lá vai soltando algumas pistas.

O corpo não é visto como um todo fechado, mas como um elemento inserido num meio. Estamos perante uma simbiose entre corpo e ambiente. Por um lado, forças exteriores, intermitentes e por vezes epilépticas, invadem o corpo e determinam a sua forma. Por outro, o próprio corpo devolve à terra a energia que recebe.

Alva confessa que a ideia de projectar imagens no corpo humano surgiu por acidente. A bailarina austríaca, ao criar instalações de vídeo, constatou que a imagem projectada atingia o corpo de uma forma interessante. A partir desse momento dedicou-se a explorar esse conceito.

O processo de criação é algo incerto. Alva Morgenstern pode começar o seu trabalho a partir de um plano previamente determinado ou a partir do caos total. Mas o mais importante é o produto final. E o que chegou ao palco do Teatro do Bairro foi uma explosão de energia, proporcionada pela fusão de diferentes artes e tecnologias.

*Este evento está inserido na programação do festival InShadow

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